💳 Fluxo de caixa na era do split payment: o que muda na gestão financeira com a Reforma Tributária
- Simeona Consultoria

- há 6 dias
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Atualizado: há 2 dias
Com a implementação da Reforma Tributária do Consumo, nasce uma das principais mudanças para o setor financeiro e contábil das empresas: o split payment (ou pagamento fracionado automático dos tributos).

Nesse modelo, se altera completamente o fluxo de recebimentos e a forma como o dinheiro circula entre consumidores, empresas e o governo, onde o valor correspondente aos tributos (CBS e IBS) é separado automaticamente no ato do pagamento eletrônico e transferido diretamente para os cofres públicos (União, Estados e Municípios).
Ou seja, o imposto não passa mais pelo caixa da empresa, o que altera completamente o fluxo financeiro e a gestão de liquidez, no qual a parcela correspondente aos tributos é direcionada automaticamente ao Fisco, enquanto apenas o valor líquido chega à empresa.
Como funciona o split payment
Pelo novo modelo, quando uma empresa realiza uma venda sujeita ao IBS (Imposto sobre Bens e Serviços) e à CBS (Contribuição sobre Bens e Serviços), o sistema de arrecadação digital fará a separação automática do valor do imposto devido no momento da liquidação financeira.
O consumidor paga uma única vez — mas o valor é dividido automaticamente:
Parte 1: tributos (IBS e CBS) — depositados diretamente nas contas do Comitê Gestor do IBS e da Receita Federal;
Parte 2: valor líquido — creditado na conta da empresa.
Esse processo é viabilizado por meio de plataformas de pagamento integradas à emissão do documento fiscal eletrônico (DF-e), como NF-e, NFC-e e NFS-e, que já estão sendo adaptadas pelas Notas Técnicas RTC 2025.001 e 2025.002.
Linha do tempo: quando o split payment começa a valer
O split payment será implementado de forma escalonada, segundo o cronograma de transição 2026–2033 (LC nº 214/2025, arts. 451 a 544):
Ano | Etapa | Situação |
2026 | Fase de teste | IBS e CBS destacados na nota, mas sem recolhimento real. |
2027 | Início da cobrança | CBS passa a ser recolhida automaticamente em operações B2B. |
2029 –2032 | Expansão | IBS entra gradualmente no sistema de split payment. |
2033 | Vigência plena | Todos os pagamentos de consumo passam pelo sistema automático. |
💡 Ou seja: a partir de 2027, o caixa das empresas já não reterá valores de tributos federais, exigindo ajustes imediatos na gestão de fluxo e capital de giro.
Impactos diretos no fluxo de caixa das empresas
A mudança no fluxo financeiro é profunda. Hoje, as empresas recebem o valor total da venda e recolhem os tributos periodicamente (DAS, DCTF, GIA, etc.), o que gerava prazo financeiro médio de 15 a 30 dias. Esse intervalo permitia o uso temporário dos valores como capital de giro informal.
Com o split payment, essa intermediação desaparece — e o recolhimento torna-se instantâneo e automático. Isso traz vantagens e desafios para a gestão financeira:
🟢 Vantagens
Eliminação do risco de inadimplência tributária;
Fim de autuações por diferença de recolhimento;
Maior previsibilidade de margens e custos tributários;
Convergência imediata entre contabilidade e arrecadação.
🔴 Desafios
Redução temporária da liquidez operacional;
Necessidade de ajustes no fluxo de caixa diário;
Maior integração entre sistemas fiscais e financeiros;
Exigência de replanejamento de capital de giro.
Como preparar o fluxo de caixa para a chegada da reforma tributária e do split payment
Para se adaptar ao novo modelo, empresas precisarão reestruturar seus controles de tesouraria, contas a receber e fluxo de caixa projetado.
Com a entrada em vigor da CBS e do IBS em 2026, e a adoção gradativa do split payment até 2030, as empresas precisarão reorganizar sua estrutura financeira para manter liquidez e previsibilidade.
A seguir, boas práticas recomendadas pela Receita Federal e Comitê Gestor do IBS:
Recalcule o capital de giro líquido (CGL):
Estime a redução do saldo médio de caixa ao descontar o valor dos tributos que não transitarão mais pela empresa.
Ajuste o fluxo diário de entradas e saídas:
Com a arrecadação direta, o volume de “caixa livre” diminui. É essencial reprogramar pagamentos de fornecedores e compromissos financeiros.
Integre ERP, sistemas fiscais e bancários:
O split payment exigirá integração em tempo real entre o sistema de gestão (ERP), o emissor de DF-e e o banco. Essa automação é crucial para conciliar créditos e débitos automaticamente.
Use indicadores de margem líquida ajustada (MLA):
Esse novo indicador considera a retenção instantânea de tributos e demonstra o real resultado financeiro por operação.
5. Planeje o uso de créditos financeiros IBS/CBS:
Conforme os arts. 23 a 35 da LC nº 214/2025, o crédito financeiro pode ser compensado rapidamente, inclusive para recompor o fluxo de caixa, via ressarcimento automático em até 3 dias úteis (art. 33).
Exemplo prático: antes e depois do split payment
Etapa | Modelo atual | Novo modelo (split payment) |
Venda de R$ 1.000,00 | Empresa recebe R$ 1.000,00 e recolhe R$ 260,00 em tributos | Empresa recebe R$ 740,00; R$ 260,00 são repassados automaticamente ao Fisco |
Controle tributário | Manual, via apuração mensal | Automático, via DF-e e sistema bancário |
Risco de inadimplência fiscal | Alto | Praticamente nulo |
Liquidez imediata | Maior | Reduzida (imposto retido no ato) |
O novo modelo simplifica a conformidade, mas exige planejamento financeiro ativo.
Empresas com alto volume de vendas à vista precisarão recalibrar estoques e prazos de pagamento de fornecedores, enquanto as que vendem a prazo deverão acompanhar o impacto do split sobre as receitas parceladas.
Oportunidades e benefícios do modelo
Apesar do desafio inicial, o split payment trará vantagens estruturais de médio prazo:
Benefício | Descrição |
💡 Redução de sonegação | O recolhimento direto elimina guias manuais e atrasos. |
🔍 Transparência total | Créditos e débitos ficam visíveis em tempo real para fisco e empresa. |
📈 Agilidade nos créditos | Ressarcimentos automáticos de CBS/IBS em até 3 dias úteis (art. 34, LC 214/2025). |
⚙️ Simplificação contábil | Conciliação fiscal automatizada e menor risco de erro humano. |
O modelo aproxima o Brasil das práticas adotadas na União Europeia e no Reino Unido, com controle digital e neutralidade arrecadatória.
Como se preparar: um plano em 3 etapas
🔧 Etapa 1 – Diagnóstico financeiro e tributário
Mapeie entradas e saídas, avaliando o impacto líquido da retenção automática.A Simeona oferece diagnósticos que simulam o fluxo antes e depois do split payment.
🖥️ Etapa 2 – Integração tecnológica
Atualize seu ERP e cadastros fiscais para o modelo CBS/IBS, incluindo CFOPs, códigos e integração bancária com o sistema da Receita Federal.
📊 Etapa 3 – Planejamento de liquidez
Defina novas metas de saldo mínimo, revise indicadores (EBITDA, margem de contribuição e ciclo financeiro) e adote dashboards de acompanhamento em tempo real.
O papel da tecnologia e da contabilidade consultiva
O split payment inaugura a era da “conformidade digital em tempo real”, conceito já previsto na Resolução nº 01/2025 do Pré-Comitê Gestor do IBS (GCE/PCGIBS).
Isso significa que todas as operações financeiras e fiscais serão validadas de forma automática, eliminando discrepâncias entre contabilidade e arrecadação.
Nesse contexto, o contador e o gestor financeiro passam a atuar de forma integrada, acompanhando diariamente o comportamento das receitas, créditos e débitos tributários — não mais apenas nas rotinas de fechamento mensal.
Conclusão: o caixa em tempo real exige gestão em tempo real
Com a chegada da reforma tributária, o split payment representa o ponto de virada na relação entre empresas, governo e sistema financeiro e inaugura a era da conformidade digital: cada transação será registrada, tributada e compensada instantaneamente, o e isso trará impactos no fluxo de caixa.
A arrecadação passa a ser automática, transparente e instantânea, mas exige planejamento de liquidez, integração tecnológica e adaptação da gestão financeira.
Empresas que se anteciparem e adotarem práticas de gestão preditiva de fluxo de caixa e que tenham gestão financeira automatizada, sistemas integrados e planejamento de capital de giro eficiente estarão mais preparadas para o ambiente tributário digital da próxima década.
O novo modelo não é apenas uma mudança tributária — é uma transformação no modo de gerir o caixa e o negócio.
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