📊 Como revisar preços e margens com a chegada da reforma tributária
- Simeona Consultoria

- 12 de nov.
- 4 min de leitura
Atualizado: há 3 dias
O novo cenário tributário: CBS e IBS substituem cinco tributos
A Reforma Tributária cria um novo sistema de tributação sobre o consumo. A partir de 2027, a Contribuição sobre Bens e Serviços (CBS) e o Imposto sobre Bens e Serviços (IBS) substituirão gradualmente PIS, Cofins, ICMS, ISS e IPI, até a plena vigência em 2033.

A simplificação altera completamente a estrutura de formação de preços e margens de lucro nas empresas brasileiras
já que:
A base de cálculo passa a ser o valor total da operação, com incidência no destino (onde ocorre o consumo).
O sistema será não cumulativo pleno, com crédito financeiro integral sobre aquisições.
O recolhimento será automático via split payment, reduzindo o efeito de caixa.
Essas três variáveis alteram diretamente margens, markups e precificação final de produtos e serviços e empresas que não recalcularem suas margens e preços de venda podem enfrentar erros de precificação, perda de competitividade e até distorções contábeis
Como a reforma tributária impacta a formação de preços
No modelo atual, a complexidade da apuração e a cumulatividade parcial dos tributos geram margens distorcidas.
A carga tributária do consumo passará a ser apurada com base em dois novos tributos:
· CBS (federal) — que substituirá PIS e COFINS;
· IBS (estadual e municipal) — que substituirá ICMS e ISS.
Com a CBS e o IBS, o imposto deixa de ser custo e passa a ser neutro, pois tudo o que for pago em uma etapa pode ser creditado integralmente na etapa seguinte.
🔹 Sistema atual (2025)
PIS/Cofins: cumulativos para parte dos setores (3,65%) e não cumulativos para outros (9,25%).
ICMS e ISS: variam por estado e município (12%–19% e 2%–5%).
Regimes diferenciados e substituição tributária distorcem margens.
Créditos restritos: apenas insumos “essenciais e relevantes” geram crédito.
🔹 Novo modelo (2026–2033)
CBS e IBS com alíquotas únicas, definidas nacionalmente.
Crédito financeiro amplo (qualquer aquisição usada na atividade).
Base no destino (tributo segue o consumo).
Transparência e automatização total do recolhimento.
Na prática, o custo tributário médio tende a diminuir nas etapas intermediárias e aumentar na etapa final, tornando o preço final mais transparente para o consumidor
Simulação prática: como recalcular preços e margens
Para entender o impacto real, veja um exemplo comparativo simplificado:
Etapa | Modelo atual (PIS/Cofins + ICMS + ISS) | Novo modelo (CBS + IBS) |
Receita líquida | R$ 100,00 | R$ 100,00 |
Carga tributária média | 18% (ICMS) + 3,65% (PIS/Cofins) = 21,65% | 26% (CBS + IBS estimado) |
Crédito sobre insumos | 10% limitado (parcial) | 26% integral (crédito financeiro) |
Carga efetiva | 21,65% – 10% = 11,65% | 26% – 26% = 0% (neutro) |
Resultado líquido | Margem comprimida | Margem preservada e previsível |
📊 Interpretação:
Embora a alíquota combinada do novo modelo pareça maior, o crédito integral neutraliza o impacto, reduzindo distorções e eliminando “imposto sobre imposto”.
No novo sistema, cada elo paga apenas sobre o valor adicionado, e todas as etapas anteriores são compensadas via crédito. Isso exige um reajuste técnico das margens de lucro, para evitar super precificação (perda de mercado) ou sub-precificação (redução de rentabilidade).
Estratégias de precificação para o novo modelo
✅ 1. Recalcule o markup líquido
O markup deverá ser ajustado considerando que os tributos não são mais custo, mas variáveis neutras no preço final.
Foque em margem de contribuição real, não na alíquota nominal.
✅ 2. Segmente produtos e operações
Identifique:
Produtos sujeitos ao Imposto Seletivo (IS) — podem ter impacto adicional.
Operações com cashback, que afetam o consumo no varejo alimentar.
Exportações, que permanecem imunes (art. 16 da LC nº 214/2025).
✅ 3. Revise contratos e tabelas de preço
Negocie cláusulas de repasse e revise políticas de reajuste para garantir equilíbrio de margens durante a transição 2027–2032.
✅ 4. Ajuste o fluxo de caixa
Com o split payment, o imposto será recolhido automaticamente no pagamento. Isso exige planejamento de liquidez e integração com o ERP fiscal.
O crédito financeiro como ferramenta estratégica
A Reforma cria um ambiente de apuração automatizada, com conciliação eletrônica de créditos e extrato digital de débitos e créditos, conforme o conceito de Apuração Assistida descrito no Glossário da Reforma Tributária.
Isso permitirá às empresas analisar em tempo real a carga tributária efetiva por produto e ajustar preços com base em dados concretos, reduzindo o risco de distorções e aumentando a eficiência fiscal.
Erros comuns na reprecificação
Durante a adaptação, muitos negócios podem incorrer em erros como:
· Ignorar créditos sobre despesas operacionais (frete, energia, serviços administrativos).
· Manter margens antigas sem considerar a nova base líquida de custo.
· Deixar de atualizar sistemas fiscais e notas técnicas (IBS/CBS).
· Calcular preços com base em alíquotas nominais e não na alíquota efetiva de referência
Conclusão: margens mais justas e previsíveis
O modelo CBS/IBS permitirá precificação baseada em valor agregado real, sem distorções de origem ou cumulatividade. A revisão de preços e margens com a chegada da reforma tributária e o modelo IBS/CBS não é apenas uma obrigação técnica — é uma oportunidade estratégica.
Empresas que entenderem rapidamente a nova dinâmica de crédito financeiro e tributação por destino e que recalcularem suas margens com antecedência terão vantagem competitiva na transição com uma melhor na gestão de rentabilidade.
A Reforma Tributária traz desafios operacionais, mas reduz a incerteza tributária e melhora o ambiente competitivo, inaugurando uma era de transparência e neutralidade fiscal. E isso exige, desde já, planejamento de preços, margens e tecnologia fiscal integrada.
Sua empresa já está se preparando para o impacto do IBS e da CBS e organizando o novo modelo de precificação dos seus produtos?
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